quarta-feira, 31 de março de 2010

TAMBOR

Canta tambor, rufa tambor
Sensual, quente, grita e clama
Que uma só hora de amor
Queima a vida numa chama.

Não há voz mais pura
Para embalar cantos de amor
Que a voz quente do tambor
Batucando a noite escura…

Canta tambor, rufa tambor
Sensual, quente, grita e clama
Que uma só noite de amor
Queima a vida numa chama.

(Poesia de Neves e Sousa)

NOTAS POLÍTICAS (32)

Ouvi ontem Morais Sarmento responder na Comissão de Ética da Assembleia da República. Resposta às acusações que na mesma Comissão, dias antes, Henrique Granadeiro lhe havia dirigido.

Se eu fosse Henrique Granadeiro, e porque não desmentiu o que Morais Sarmento afirmou, tinha já pedido a demissão do elevado cargo que ocupa. Há uma coisa que se chama honorabilidade.

NOTAS POLÍTICAS (31)

As palavras de felicitações publicamente dirigidas pelo Presidente da República ao novo líder do PSD, logo seguidas por referências à necessidade de estabilidade política, desencadearam já o costumeiro burburinho político. E porquê? Porque foram entendidas como um “condicionamento” inadmissível à autonomia e independência políticas de que deve beneficiar a nova liderança do PSD.

Eu sempre aprendi, e a experiência da vida ensinou-me, que só nos deixamos condicionar se formos tão frágeis que o consintamos. Não quero acreditar que Passos Coelho seja tão frágil como isso.

E, depois, o que o Presidente da República fez foi acentuar, uma vez mais, aquilo que tem repetidamente dito: que a estabilidade é uma condição da governabilidade e que o País está tão carecido de ser tão (bem) governado como estamos carecidos de ter trabalho ou pão para a boca.

Eu sei que há os eternos contestatários, os que não acreditam em nada disto, os que estão descrentes e, até, os que já estão verdadeiramente zangados com Cavaco Silva, tendo sido seus apoiantes.

Tudo bem. Deixem-me recordar a todos esses apenas duas simples coisas que acabam de ter lugar já depois das declarações do Presidente da República. A primeira é o Relatório da Primavera do Banco de Portugal, que revê em baixa as previsões do Governo quanto a algumas das principais variáveis macroeconómicas do País, designadamente o crescimento do PIB. A segunda é a notícia de que a Grécia viu ontem disparar de novo as taxas de juro que os investidores lhe reclamam para lhe emprestar dinheiro, o dinheiro de que carece para sobreviver no dia-a-dia.

Já sei que nós não somos a Grécia…Espero que, ao menos, não sejamos inconscientes.

NOTAS POLÍTICAS (30)

Sempre apreciei muito escutar as intervenções políticas de Ângelo Correia na SIC-NOTÍCIAS, que é onde costumo ouvi-lo.

Ontem, segunda-feira, pronunciou-se acerca do significado da vitória de Passos Coelho para a presidência do PSD e sobre o que este iria fazer de imediato, terminando as suas reflexões com a questão do relacionamento do novo líder com Cavaco Silva, a quem não deixou de enviar várias “directas”.

Gostei de o ouvir, claro. Mas, de repente, percorreu-me a estranha sensação de que tinha acabado de escutar as primeiras instruções públicas dadas por quem sabe muito e é um velho “barão” do partido ao novo líder do PSD. Mas isto não passou, certamente, da minha habitual imaginação…

MÃE ÁFRICA

TABU OS NEGROS CONTRA BRANCOS ALBINOS

segunda-feira, 29 de março de 2010

ORAÇÃO DE MACHO E FRÁGIL

Antes uma feia / cheia de graça / capaz de ir à lavra /
Comandar a casa / exigir bom trato/ conceber o fruto /
Bendito o teu ventre/ e eu serei contigo.

Zelarei pelo gado / pelo leite e pela carne /
Cumprirei viagens / cuida tu do fogo / renova o meu sangue /
E acolhe o vigor da minha semente.

E volve os teus olhos / para a minha chegada.
Sem ti não sou nada /
Nem valem os rumos /
Se os não entrelaças.

Fivela dos prazos / água da estação / remate dos mundos /
Fermento das festas / calda das nações /
Olha por mim
Mãe do homem.
Agora e na hora da minha fraqueza / amém.

(Poesia de Ruy Duarte de Carvalho, in “Lavra”)

NOTAS POLÍTICAS (29)

Passos Coelho ganhou as eleições para a presidência do PSD sem margem para dúvidas. Até se poderia dizer “a leste nada de novo”, pois as sondagens davam-no já como claro vencedor por uma percentagem à roda dos 60%.

É de realçar também a elevada participação eleitoral, mas é igualmente certo que o noticiário da semana já dava conta do enorme afluxo de militantes que acertavam o pagamento de quotas para efeitos eleitorais. Deste ponto de vista também não ocorreu novidade de maior.

A partir de agora, a grande dúvida parece centrada na badalada questão da unidade: que o PSD é um partido balcanizado, que é um partido “saco de gatos”, e mais isto e mais aquilo.

De facto, de há vários anos para cá, o PSD tem sido, em maior ou menor grau, esse partido. Mas não o foi sobretudo por divisões programáticas ou por clivagens ideológicas: fundamentalmente, foi-o por permanentes e desgastantes questiúnculas de poderes pessoais e de facções internamente organizadas ao redor de pequenos “cabos de guerra”, aquilo a que se poderia apelidar de mini-máfias….

Lembram-se do “eu vou andar por aí” de Santana Lopes? Lembram-se das repetidas críticas televisivas de Menezes a Marques Mendes? Lembram-se da exigência pública do próprio Passos Coelho a Ferreira Leite, antes das legislativas, no sentido de que se esperava dela uma maioria absoluta para o PSD? Sabia-se quem criava a divisão, sabia-se quem organizava a cizânia interna, sabia-se de onde vinha o bota-abaixismo permanente e destrutivo. E por isso justificadamente se dizia ser o PSD um partido incontrolável, ingovernável e não credível.

A melhor e talvez última imagem pública deste tipo de PSD foi a da intervenção, no último Congresso do Partido, do presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, ao declarar vaidosamente que para ganhar eleições ele tinha mentido aos eleitores do seu município! Imagino que ele e Sócrates devam entender-se bem!...

A questão da unidade não se vai colocar a partir de agora: Ferreira Leite, Paulo Rangel, Aguiar Branco regressarão pacificamente aos seus cargos de deputados nacionais e europeu e aí terão uma intervenção política livre e responsável, mas nunca contra a direcção que Passos Coelho organizar. Os apoiantes respectivos diluir-se-ão e o próprio grupo parlamentar não oferecerá problemas de maior à nova liderança, uma vez que muitos dos deputados foram apoiantes de Passos Coelho. Quanto aos desordeiros do costume, será o próprio Passos Coelho a suavizar-lhes as ânsias pela forma mais apropriada, que é a da distribuição de poderes internos e de atenções redobradas…E a tranquilidade reinará, até porque há um cheiro de poder que anda no ar.

Eis, pois, sumariamente referidas, as razões por que seria capaz de apostar singelo contra dobrado que não se colocará a Passos Coelho a questão, que para outros líderes foi magna e intransponível, de operar uma unidade básica no Partido. E reconheça-se que os seus primeiros gestos ajudam também a tal propósito.

Não significa isto que não vá ter problemas sérios. Claro que vai.

O primeiro reside exactamente em colocar, a seu tempo, nos lugares que merecem, e nada mais, a “tralha” de apoiantes do chamado “aparelho partidário”, que lhe proporcionou a vitória. Eles serviram para isso, mas não servem para mais nada, ressalvadas as sempre devidas excepções.

Ora, isto implica a consecução de uma linha estratégica bem difícil: a de ir abrindo o PSD ao que de melhor tem a sociedade e aí ir captar simpatizantes ou novos militantes, pessoas sérias, competentes, decentes, reconhecidas no seu mundo profissional, seja qual for. Ou seja: voltar a ter um vasto corpo de quadros e técnicos, com ideias, projectos, saberes, sem os quais não se torna viável forjar propostas políticas para os problemas que afligem o Estado, a sociedade, os nossos concidadãos. Claro que isto exigirá ir deitando fora uma boa parte da “tralha” que agora o levou ao topo do partido, mas que ele sabe que não servirá para o levar ao Governo. Não vai ser fácil, mas terá de o fazer por imperativo de sobrevivência política.

A segunda linha estratégica que se colocará a Passos Coelho respeita ao seu relacionamento com o Presidente da República. Não creio que vá encontrar nela particulares dificuldades: Passos Coelho sabe que não poderá deixar de apoiar com vigor a recandidatura de Cavaco Silva e não ocorrerão interferências recíprocas nas respectivas funções. O próprio exercício do papel de líder do maior partido da oposição permitirá a Passos Coelho ir percebendo que o Poder não se alcança com precipitações ou arroubos. Terá de interiorizar, por isso, que em caso algum o PSD pode ser, e ser visto pela maioria da opinião pública, como o grande causador de instabilidade política ou o promotor principal de irresponsabilidades face aos interesses nacionais.

Eis as razões, em síntese, por que não acompanho em grande parte as análises políticas que vejo alastrarem nestes instantes. Mas é verdade que muita água falta ainda correr sob as pontes…

NOTAS POLÍTICAS (28)

A empresa fabricante do sólido e reputado Volvo, inicialmente sueca e, depois, propriedade da Ford, foi agora vendida à empresa chinesa Zhejiang Geely, conhecida por fabricar carros baratos e de qualidade inferior- dizem os jornais.

Não me espantaria nada que, daqui a uns poucos anitos, em lugar de comermos “bacalhau à Braz”, nos proponham “bacalau à Yang-Tzé”…

NOTAS POLÍTICAS (27)

Recordam-se do que proclamava Jorge Sampaio? “Há mais vida para além do défice”.

Recordam-se do que profetiza agora Manuel Alegre? ”Há mais vida para além do PEC”.

Eu cá já ando desconfiado de que estes dois preclaros políticos se fartam de ler livros sobre extra-terrestres.

sexta-feira, 26 de março de 2010

KITENGUE

NOTAS POLÍTICAS (26)

Com a devida pompa e circunstância, o senhor Ministro da Administração Interna informou o País, com tom solene e voz embargada, que se concluía do relatório anual de segurança interna, referente a 2009, ter descido de 0,6% a taxa de crimes violentos e graves, o que deveria merecer natural registo pela inversão de tendência que assim se verificava relativamente aos últimos anos.

No próprio dia da conferência, assistia-se a assaltos a ourivesarias, a tentativas de roubo de carrinhas de recolha de dinheiro e a troca de tiros entre a polícia e um gangue.

Não há dúvida: estes malfeitores, estes bandidos e esta ladroagem que por aí pulula à vontade não percebem nada de inversão de tendências, mesmo que seja apenas de 0,6%...

NOTAS POLÍTICAS (25)

Hoje é dia de eleições para a nova liderança do PSD. Não me apetece nada ter de incomodar outra vez Nossa Senhora de Caravaggio…

NOTAS POLÍTICAS (24)

Devo ser dos poucos social-democratas a concordar com a posição que Manuela Ferreira Leite tomou, em nome do PSD, na votação da resolução sobre o PEC.

Imagino o que lhe custou fazê-lo, a ela que foi a primeira líder política que, muito antes das últimas eleições legislativas, denunciou com meridiana clareza o acumular de erros nas políticas públicas que nos haveria de conduzir à situação actual- portanto, ao PEC.

E, todavia, contra muitos do próprio partido, e ciente do risco político que a posição hipócrita do CDS vai criar ao PSD, arriscou a única posição de respeito pelo interesse do País, a abstenção.

Amanhã não teremos as agências de rating a baixar a notação de Portugal; amanhã não estaremos confrontados com um eventual cenário de novas eleições, que nada resolveriam e tudo agravariam.

Não foi pequeno serviço a Portugal, faça-se-lhe essa derradeira justiça.

Veremos, no futuro, quando se tiver que aprovar legislação concreta, qual vai ser a posição do novo líder do PSD. Desconfio bem que vamos ter belos sarilhos; mas o PS poderia tê-los evitado se tivesse adiado por uns dias a votação da resolução sobre o PEC, como lhe foi pedido .Quem semeia ventos…

quarta-feira, 24 de março de 2010

AI QUE SAUDADES EU TENHO DE TI... ANGOLA

 

NOTAS POLÍTICAS (23)

Manuela Ferreira Leite terá dado ontem à TVI 24 a sua última entrevista televisiva como presidente do PSD.

Sai com a mesma imagem com que assumiu a liderança: seriedade e credibilidade. Não é pouco, mas não é, manifestamente, suficiente.

NOTAS POLÍTICAS (22)

Incidentalmente, deparei-me no domingo com as repetidas imagens televisivas dos confrontos entre adeptos do Porto e do Benfica.

De repente, não sei porquê, lembrei-me das imagens em que se vêem palestinos a atirar pedras a israelitas e estes a ripostarem.

Mas isto são exageros meus, claro. O que faz falta aos nossos energúmenos das claques são uma coisa muito simples: detenção, julgamento sumaríssimo em menos de 24 horas e obrigação de trabalho comunitário, por exemplo, plantar couves, limpar lixo, visitar doentes hospitalizados. O futebol ficava a ganhar e todos nós também.

Agora, quando sabemos que o Porto e o Benfica são “punidos” com uma multa de 2.000 euros cada um, percebe-se imediatamente que ninguém quer mudar nada.

NOTAS POLÍTICAS (21)

Oiço a notícia de que o Presidente Obama conseguiu ver aprovado o seu plano para a saúde, destinado a cobrir alguns milhões de cidadãos americanos que até hoje estavam a descoberto de seguros de saúde. No país da livre iniciativa, do mercado livre, do Estado não intervencionista, do individualismo exacerbado, é reconfortante confirmar que nada disso impediu a justiça social.

Não foi, por isso, apenas Obama que ganhou: ganhou a própria ideia de Justiça nestes tempos de valores esmaecidos.

NOTAS POLÍTICAS (20)

Noticiava o “Expresso” do último sábado, a propósito das próximas eleições no PSD, que se tinha registado um aumento extraordinário no pagamento de quotas nos últimos dias anteriores ao termo do prazo: 20 mil quotas só numa semana! O universo eleitoral apto a votar excederia, assim, em 2 mil o das últimas eleições directas.

Gostaria de me regozijar com esta notícia: pois não é importante para a vida democrática de um dos maiores partidos do País esta afluência extraordinária de filiados seus ao cumprimento do pagamento de quotas em atraso, de forma a exercerem livremente o seu direito de voto? Pois não é importante para a própria vida democrática do País que as eleições para a liderança de um dos seus grandes partidos alcancem uma expressiva votação? Claro que sim.

Claro que sim, mas…Mas é que me vem sempre à ideia a ocorrência daqueles conhecidos sindicatos de voto que, por vezes, mancharam a transparência dos processos eleitorais no PSD. Disso não gosto, porque esse tipo de gente é simplesmente não recomendável e os procedimentos que adoptaram manifestamente reprováveis.

E por isso eu teria preferido que estes meus 20 mil companheiros retardatários no pagamento de quotas (que são de montante irrisório, aliàs) tivessem mostrado mais cedo os seus arroubos eleitorais pelo PSD…Seria tudo mais transparente e todos ficaríamos mais sossegados. Mas isto sou eu a dizer, claro.

NOTAS POLÍTICAS (19)

“Limpar Portugal” foi uma bela iniciativa proveniente de três jovens- Nuno Mendes, Paulo Torres e Rui Marinho- que conseguiu mobilizar uma parte significativa de entidades e de cidadãos numa jornada de limpeza do lixo que se acumula por todo o lado do País.

A iniciativa provou que se pode fazer algo de positivo sem ter de se aguardar pelo Estado e pelo choradinho dos dinheiros públicos, e só por isso teria valido a pena.

Demonstrou também como o País está extensa e inqualificavelmente sujo e isto não se resolve sem duas coisas fundamentais: primeiro, uma consciencialização ambiental das nossas crianças e jovens (para os adultos já vai tarde…), a ter lugar na família, na escola, nas igrejas, nos clubes desportivos, onde quer que se torne viável essa aprendizagem; segundo, uma revisão da legislação ambiental pertinente, de forma a sancionar com coimas muito duras e, porventura, como crimes ambientais a criação destas lixeiras, o depósito ilegal deste “estrume industrial”, acompanhada de uma eficaz fiscalização do seu cumprimento, sob pena de se criar, apenas, mais uma bela lei para inglês ver…

NOTAS POLÍTICAS (18)

Enfim, a nossa RTP acabou por entrevistar todos os candidatos à liderança do PSD, assim cumprindo a tarefa de serviço público para que existe.

Mais vale tarde do que nunca…Parabéns à RTP, portanto. Os candidatos é que duvido que mereçam parabéns…

KINAXIXI

Gostava de estar sentado
num banco do Kinaxixi
às seis horas de uma tarde muito quente
e ficar…

Alguém viria
talvez
sentar-se ao meu lado

E veria as faces negras da gente
a subir a calçada
vagarosamente
exprimindo ausência no quimbundo mestiço
das conversas
Veria os passos fatigados
dos servos dos pais também servos
buscando aqui amor ali glória
além de uma embriaguês em cada álcool

Nem felicidade nem ódio

Depois do sol posto
acenderiam as luzes e eu
iria sem rumo
a pensar que a nossa vida é simples afinal
demasiado simples
para quem está cansado e precisa de marchar.

(Poesia de Agostinho Neto, 1961)

terça-feira, 16 de março de 2010

ANGOLA - SABORES DA TERRA

MENINA PRETA

Menina preta das trancinhas curtas,
Com esmero entrelaçadas,
Com seu vestido novo, rameado,
E um colar de missangas esmaltadas;
O que vê ela na pocinha de água
Que a chuva fez no chão,
Com seus olhitos duma ingénua mágoa,
Presos ali de singular visão?...
Mira-se ao espelho de água prateada
Que a chuva deixou na rua…
Pensa, talvez, que a imagem não é sua,
Mas de algum anjo de veludo negro,
Anjo vestido de candura e luz,
Que um missionário bom inda há-de pôr
Nesse presépio onde nasceu Jesus…

(Poesia de J. Galvão Balsa, in “Oiro e cinza do sertão”)

NOTAS POLÍTICAS (17)

Os noticiários das televisões de ontem e de hoje realçam com exemplos situações de atribuição de vários milhões de euros de prémios, que se adicionam a outros milhões de vencimento mensal, pagos a gestores de empresas de nomeação governamental, todos referentes a 2009-o ano em que a crise nos rebentou em pleno.

Naturalmente que existe um sentimento generalizado de verdadeiro escândalo público com estas situações, pois é inadmissível exigir-se sacrifícios, por vezes bem pesados, a largas camadas da nossa população e, em contrapartida, permitir-se aos “BOYS” estes autênticos manjares de deuses.

É isto o socialismo? Não, não faço essa injustiça aos autênticos socialistas: o que nós temos é um gangue do multibanco a passar férias no Poder em Portugal.

NOTAS POLÍTICAS (16)

Caiu o Carmo e a Trindade por causa da introdução de uma norma estatutária, aprovada no último Congresso do PSD, de acordo com a qual os militantes que violem as directivas do Partido no período de até sessenta dias antes de um acto eleitoral podem ser disciplinarmente punidos, com pena que pode ir até à expulsão.

O chinfrim começou logo com o inefável Vitalino Canas, deputado, “provedor temporário” e porta-voz encartado do PS, que proclamou ao País estarmos face a uma situação tão grave que o seu Partido admitia levá-la ao Parlamento. Faz bem: nada há de melhor do que oferecer circo ao Povo quando não se sabe governar.

A norma aprovada é uma estupidez, claro. Mas é uma estupidez pela comezinha razão de que…já existia! Nos regulamentos disciplinares de todos os partidos, ou de quase todos no mínimo, sempre existem normas que estabelecem a possibilidade de aplicação de sanções disciplinares aos filiados que violem o programa, os estatutos ou as linhas políticas fundamentais aprovadas pelos órgãos competentes do Partido. Não há nisso qualquer novidade.

O que Santana Lopes conseguiu que se aprovasse foi, assim, uma aberração jurídica: a partir de agora, um bom advogado defenderá que um militante pode violar à vontade os estatutos do Partido (incluindo a norma ora aprovada…), ou as directrizes políticas dos respectivos órgãos, desde que se esteja a mais de 60 dias de um acto eleitoral! É no que pode dar estes arrufos políticos de ex-líderes…

Porque é disso que se trata, afinal: o PSD anda tão traumatizado com o que se tem passado com o “bota-abaixo” permanente dos seus últimos líderes (Santana, Marques Mendes, Filipe Menezes…) que se deixou cegar pelo ridículo de supor que se resolvem problemas políticos com normas jurídicas, ainda por cima totalmente redundantes!

No fundo, o Congresso aprovou o que não devia aprovar e rejeitou propostas que mereciam melhor acolhimento: a eleição do líder a duas voltas, por exemplo. Mas não é verdade que sempre se diz que os “laranjinhas” em Congresso são um pouco loucos?

segunda-feira, 15 de março de 2010

AFRICAN ART

NOVEMBRINA SOLENE

Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?

Longe daqui
Subimos os morros

Fomos procurar
A água que resta
Do ano que passa.

Senhora Luna
A farinha?

Está a secar

Tarda a chuva
Seca o milho
A lavra não vai medrar.

Tyimutengue
Meu vizinho então por cá?

Pois que vim te visitar
Te avisar
Que o meu gado vai passar
Aqui por perto

Tarda a chuva e é preciso
Procurar
O que lhe dar de comer
O que lhe dar de beber
O capim está a ficar negro
Está na hora de mudar.

Imigrante Silva, a tua mulher?
Está mal.
Que é do leite para lhe dar
E carne para lhe engordar?

E os filhos?

Estão magrinhos
Doentados
Vão ficar igual com o pai.

Que é da escola para lhes dar

Sapatos para lhes calçar
Ofício para ensinar?

Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca, Ernesto, Calembera
Olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
E pela saúde dos machos.

(Poesia de Ruy Duarte de Carvalho, in “Lavra”)

NOTAS POLÍTICAS (15)

Domingo, pelas 21 horas, liguei para a RPT, tão habituado estava a escutar os comentários e as análises de Marcello Rebelo de Sousa. De repente é que me lembrei que a RPT se tinha despedido (este “se” cheira-me a hipocrisia…) do conhecido Professor Marcello, com toda a ternura, respeito e carinho.

Assim perde a RTP um programa que era visto por milhares e milhares de telespectadores. Aparentemente, devido ao facto de António Vitorino não poder continuar a fazer “contraponto” a Marcello nas suas “Notas Soltas “ de segunda-feira à noite…

Acredite quem quiser- eu não. Mas isto nem sequer é capaz de ser o principal. O principal é que uma televisão que é paga pelo bolso dos contribuintes se dá ao luxo de atirar borda fora uma das figuras mais escutadas pelo grande público para vir a substituí-la por um programa todo “pluralista” e não sei quantas vezes mais caro. Vai uma apostinha?

NOTAS POLÍTICAS (14)

Assisti ao Congresso do PSD pelas televisões e ao que assisti foi a um congresso de narcisismo político-jornalístico, fundamentalmente. O que se escutou perfeitamente? Os discursos de Ferreira Leite, Marcello Rebelo de Sousa, Marques Mendes e Santana Lopes, bem como as intervenções dos quatro candidatos, e praticamente mais nada. Tudo o resto, quer na SIC-NOTÍCIAS, quer na TVI, foi completamente ocupado pelos comentários, análises e entrevistas políticas de quem dirigia as emissões e dos respectivos convidados, que na maior parte dos casos eram também jornalistas!

Não fôra o excelente discurso de fundo de Marcello e a brilhante intervenção de Marques Mendes, o Congresso não passaria de aparição ofuscante do jornalismo de pseudo comentário. Pois se não estão a ouvir quem fala no palco, como se pode legitimamente pretender emitir juízos, formular opiniões e proferir comentários políticos?! Do meu ponto de vista, a isto chama-se uma fraude! Para a próxima, o melhor mesmo é organizarem um Congresso de comentadores políticos.

Nossa Senhora de Caravaggio não quis saber para nada da minha velinha…

sexta-feira, 12 de março de 2010

NOTAS POLÍTICAS (13)

Inicia-se amanhã um Congresso do PSD, o meu Partido de sempre. Sou militante desde 1975, ingressei como deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa em 1979, a convite pessoal de Sá Carneiro – com que não contava, acrescento já para que não se insinue que quero fazer-me passar por aquilo que não fui -, integrei como Ministro o Governo da AD presidido por Pinto Balsemão, fiz parte da “troika” com Mota Pinto e Eurico de Melo, fui de novo deputado a convite de Cavaco Silva e pertenci à sua Comissão Política…É uma história que leva 35 anos de vida: já não dá para divórcio, mas dá para andar muito zangado com a desagregação ética a que venho assistindo de há vários anos para cá, ressalvadas, claro, as louváveis tentativas de companheiros sérios e politicamente válidos, como Marques Mendes e Ferreira Leite, que falharam por razões que agora não são chamadas para aqui. Dá para andar muito zangado e também para permanecer céptico face ao que tenho assistido (e pouco foi, confesso) até aqui.

Mas nestas coisas do PSD há sempre uma luzinha de esperança, um grito de incoformismo, um gemer de alma lancinante, um sorriso malandro…

É por isso que, esta noite, eu vou colocar uma velinha a Nossa Senhora de Caravaggio…

NOTAS POLÍTICAS (12)

Dei uma olhadela por comentários de blogues que aprecio e fiquei com a sensação de que vários bloguistas cujos escritos eu não consideraria nem de esquerda, nem de direita radical, não apreciaram por aí além a entrevista de Cavaco Silva à jornalista Judite de Sousa, da RTP. No fundo, o que criticam ora com maior acutilância, ora com mais suavidade, é a extrema contenção de Cavaco nas suas afirmações, a sua interpretação dita minimalista dos poderes presidenciais, a falta de “sal e pimenta” de que estavam à espera depois de tudo quanto parece ter-se passado desde o inesquecível “caso do Estatuto dos Açores” até agora, com Sócrates em queda acelerada e muito desgastante (politicamente falando, esclareça-se…).

Pois eu não compartilho dessas opiniões. Só as têm, aliás, os que se esquecem, nas suas análises, de duas características quase que genéticas de Cavaco Silva: é um político basicamente institucionalista; e é um político para quem os interesses do País estão sempre em primeiro lugar. Claro que quem quiser pode não acreditar nisto, e, não se acreditando, é perfeitamente natural que não se tenha apreciado as declarações de Cavaco Silva.

Por que digo que Cavaco é basicamente um institucionalista? Porque jamais sobreporá às regras de cumprimento do seu estatuto presidencial quaisquer interesses, estratégias ou atitudes que ponham em causa a interpretação que dele tem feito: um Presidente para todos os portugueses. Não me espanta, por isso, que não se lhe ouça a mais ligeira alusão crítica ao Primeiro-Ministro, em público. Não me espanta que não se aproveite da entrevista para criticar o conteúdo do PEC, antes instigue Governo e oposições a um sério esforço de concertação política para o aprovar, de modo a que os mercados financeiros internacionais não penalizem com taxas de juro mais altas os interesses nacionais, das empresas e das famílias -no que claramente demonstra colocar os interesses do País acima de quaisquer outras estratégias. Enfim, recusa claramente a ocorrência, nas actuais circunstâncias, de uma crise política que se somaria à crise financeira, económica e social que já sofremos, e coloca na instância própria – o Parlamento – o ónus que lhe cabe: se quer derrubar o Governo, pois que apresente uma moção de censura. Não se poderia ser mais institucionalmente escorreito.

Faltou à entrevista aquele rasgo de alma que deveria apontar-nos os “amanhãs que cantam” no meio desta negritude de espírito em que o País parece ter tombado? Talvez…Não seria justo esquecer, porém, que Cavaco Silva não se tem cansado, ao longo dos anos que leva de mandato, de apelar insistentemente aos sentimentos de resistência das nossas gentes, de tentar mostrar o que o País faz de melhor, de instigar ao trabalho, ao esforço e à não acomodação dos cidadãos. Não se lhe pode exigir é sol na eira e chuva no nabal…

Estão certos, porém, os que afirmam que não houve novidades mediáticas na entrevista à RTP (e até nesta escolha televisiva mostrou o seu institucionalismo…). Não houve, porque esse é o estilo próprio do Presidente. Salvo num ligeiro pormenor: agora é claro que Cavaco Silva mantém íntegras todas as condições políticas para se recandidatar à Presidência da República. Houve quem fosse dormir descansado, como eu, houve quem tivesse ficado com azias….

NOTAS POLÍTICAS (11)

Podemos ler em jornais brasileiros, e também na imprensa nacional, algumas declarações do Presidente Lula da Silva proferidas aquando da sua recente deslocação a Cuba, a propósito do falecimento, em cadeia cubana, do dissidente político Orlando Zapata Tamayo, que não posso deixar de considerar como chocantes.

De entre essas declarações, destaco esta:”Temos que respeitar a determinação da Justiça e do Governo cubano de deter pessoas em conformidade com a legislação de Cuba”.

Para quem, se a memória não me falha, foi preso político no Brasil no tempo da ditadura militar, e para quem se considera um político de esquerda – por definição, um lutador da liberdade - não pode deixar de considerar-se escandaloso o que Lula da Silva disse. Pela mesma ordem de razões a prisão de Lula por motivos políticos foi justificada, porque obedeceu à legislação brasileira da altura; e, do mesmo modo, não se poderia condenar o regime anterior ao 25 de Abril pelas prisões políticas que determinou, ou melhor, que os tribunais plenários da altura determinaram, uma vez que obedeceram às leis então vigentes.

O que nos interessa o que Lula da Silva diz? A mim interessa-me, porque ele faz parte de nós, quer dizer, do mundo lusófono; e também porque respeito os homens de esquerda que se distinguem pelo seu humanismo, o que é o caso de Lula.

Bem sei que uma andorinha não faz a primavera, mas Lula perdeu uma excelente ocasião para a fazer no sítio certo e no momento exacto.

quarta-feira, 10 de março de 2010

NOTAS POLÍTICAS (10)

Não consigo entender que sentido de responsabilidade face aos interesses mais fundos do nosso País evidenciam aqueles que começam a especular com a eventualidade de eleições antecipadas caso o PSD e o CDS não votem favoravelmente a resolução que se afirma ir o Governo apresentar no Parlamento sobre o PEC.

Não vejo que o PSD tenha de votar favoravelmente a resolução caso não concorde com o seu teor. Mas se votar contra significar eleições antecipadas, então deve abster-se. A situação do País é de tal modo grave que ninguém entenderia a decisão eventual de se ir, de novo, para eleições, sabendo-se que isso não alterará significativamente o actual quadro de relações parlamentares.

Gastar mais dinheiro ao País para nada, nunca foi e não é solução aceitável. Nas actuais circunstâncias, em que se estão a pedir mais sacrifícios aos portugueses, seria de esperar destes uma reacção muito negativa – tipo “Bordalo Pinheiro”.

NOTAS POLÍTICAS (9)

É muito interessante observar a evolução de certas coisas, por exemplo, as alterações aparentemente inócuas, mas na realidade profundas, que o “PÚBLICO” vem registando desde a entrada de um novo director, após a saída mal explicada do anterior titular, cujas ideias eram conhecidas através dos seus editoriais.

Se lermos o editorial de hoje, dia 9 de Março, por exemplo, é verdadeiramente escandaloso começar-se por deparar com estas afirmações: ”Após a revelação integral do Plano de Estabilidade e Crescimento, será muito difícil a alguém criticar o Governo por tapar os olhos à gravidade da situação das finanças públicas.”

O que é, afinal, espantoso é que este PEC contempla apenas de um modo parcial e incompleto ideias que Manuela Ferreira Leite e muitos outros defendiam há muito, desde muito antes das últimas eleições legislativas. Ideias essas, recorde-se, que Sócrates e o PS combateram vigorosamente! E foi com essas ideias que ganharam as eleições- democraticamente, claro, mas iludindo totalmente o Povo.

Pois, agora, eis como se dá a volta às coisas: em lugar de se sublinhar vigorosamente que o PS se enganou totalmente nas suas previsões, escondeu completamente a situação dos olhos dos portugueses, fez “batota eleitoral” portanto, não - o que se vem dizer é simplesmente isto: que grande Governo temos nós!

O que vale é que se torna mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo, como popularmente se diz. No editorial de hoje, dia 10, depois de perceber as primeiras reacções dos especialistas ao teor do PEC, o que escreve a mesma editorialista? Apenas isto: ”Ou o Governo não tem todas as contas feitas ou, não sendo isto verdade, tinha o dever de as mostrar ao país”. E vai daí desanca forte no PEC e sova o Governo…

É nisto que dá certo tipo de alterações editoriais. Por mim, prefiro as que são clarinhas como água do que aquelas que andam aos ziguezagues e que acabam por não agradar nem a gregos nem a troianos.

Angola - Paulo Flores - Canta Meu Sonho

Acácias - Angola - Benguela

REGRESSO


Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu vida e amor,
para voltar…
Voltar…
Ver de novo baloiçar
a fronte magestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia…
Regressar…
Poder de novo respirar
(oh!...minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o húmus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o sol da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor…
…………………………………………………….
Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monótono, igual,
do casario plano…
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano…
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão…
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruídos…
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo.
Sêde…Tenho sêde dos crepúsculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais…
Saudade…Tenho saudade
do horizonte sem barreiras…,
das calemas traiçoeiras,
as cheias alucinadas…
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...
…………………………………………………….
Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana…
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa…
Ah! quando eu voltar…
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei…
A minha alegria enorme de poder
emfim dizer:
Voltei!

(Poesia de Alda Lara)

segunda-feira, 8 de março de 2010

NOTAS POLÍTICAS (8)

Não se pode deixar de sentir um sentimento de grande revolta por aquilo que é possível saber-se da morte de um jovem no rio Tua, em Amarante. Digo que é possível saber-se porque aquele pouco que se sabe, graças à comunicação social e a mais ninguém, traz à luz o silêncio ensurdecedor das entidades públicas, desde a escola, à polícia, e à CPCJ. Ninguém sabia de nada, ninguém explica o que quer que seja sobre os antecedentes da tragédia, ninguém aparece a dar a cara.

Somos um País de surdos e de mudos, está visto.

NOTAS POLÍTICAS (7)

As declarações do Bastonário Marinho Pinto, pese embora o estilo agressivo a que já nos habituou - um pouco parecido com o estilo de Manuela Moura Guedes…et pour cause…- não devem passar sem um reparo forte, porque, desta vez, foram longe demais e colocaram em causa valores sensíveis da nossa vivência democrática.

Afirmar que existe um sector da nossa Justiça que está envolvido numa campanha política para derrubar o Governo (e percebe-se a quem o Bastonário se pretende referir) vale o mesmo que afirmar-se que também existe um outro sector da Justiça que é cúmplice em destruir provas contra o Primeiro-Ministro (e também se entende a quem se reportam estas directas). A única diferença está em que as afirmações destes últimos são feitas por políticos ou por comentaristas políticos, ao passo que aquelas foram produzidas por um Bastonário da Ordem dos Advogados - que é coisa muito diferente de um sindicato.

É visível que Marinho Pinto não distingue bem o papel de Bastonário do papel de político, para o qual terá vocação mas que coloca em xeque não apenas a classe dos advogados - que parece esquecido de representar - como a leal convivência com os demais grupos profissionais da Justiça.

Quando dentro desta se procede assim, e sendo certo que os “mimos” não têm partido apenas de Marinho Pinto, como se há-de esperar que os cidadãos confiem na Justiça, ou que os Governos consigam fazer algo de sério e profundo nas políticas indispensáveis e tão urgentes de reformas para o sector?

Tudo isto faz-me recordar o “Portugal adiado” de que Eanes falava há uns trinta anos atrás. Trinta anos atrás… senhores!

quinta-feira, 4 de março de 2010

NOTAS POLÍTICAS (6)

Nunca fui assíduo fã da TVI e só espreitei duas ou três vezes o Jornal Nacional dirigido por Manuela Moura Guedes porque o Primeiro-Ministro resolveu desancar nela naquele célebre Congresso do PS. Faz parte dos ensinamentos dos manuais políticos que o resultado de tal tipo de ataques redunda sempre em aumento de audiências do programa do visado. E foi por isso que também eu lá fui espreitar…Confesso que não gostei do estilo, tanto mais que tive a “sorte” de apanhar com aquela autêntica “peixeirada” de socos verbais entre Moura Guedes e Marinho Pinto.

Hoje revi Manuela Moura Guedes, desta vez na Comissão de Ética da Assembleia da República, a propósito do cancelamento do Jornal Nacional e do negócio frustrado de compra da TVI pela PT.E aquilo a que assisti pela televisão foi à denúncia feita por uma mulher corajosa, frontal, clara e sem papas na língua de uma das mais sujas manipulações políticas de que tenho memória no nosso País.

Depois disto, a Assembleia da República só tem um caminho a seguir: a comissão de inquérito, destinada a apurar com o maior rigor possível os factos e as suas conexões.

Entretanto,os magistrados de Aveiro do processo “Face oculta” têm vindo a ver consolidada a sua credibilidade face à opinião pública, não restam dúvidas...

NOTAS POLÍTICAS (5)

A Sic-Notícias tomou a iniciativa de promover debates entre os três principais candidatos à liderança do PSD. Compreende-se perfeitamente a razão desta iniciativa, porque não está apenas a tentar apurar-se o que pensam aqueles candidatos acerca dos problemas do País, está também a procurar-se que a opinião pública possa informar-se sobre as ideias principais de quem, amanhã, pode ser chamado a exercer o cargo de Primeiro-Ministro de Portugal, tendo em atenção a posição tradicional do PSD como partido de governação.

Com esta iniciativa a SIC demonstra, uma vez mais, que tem o sentido de verdadeiro serviço público, que o Estado não lhe paga. Em contrapartida, a nossa RTP, que é paga com o nosso dinheiro, anda distraída a filmar permanentemente as várias “inaugurações” e outras iniciativas do Primeiro-Ministro ou de membros do seu Governo. É nisto que dá este modelo de televisão pública e este modelo de supervisão da comunicação social (a ERC), ambos enquadrados na mesma linha política.

Albano Neves e Sousa - Cacusso

ANGOLANO

Ser angolano é meu fado e meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor e condição
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão, nem mesmo de bandeiras,
De língua, de costumes ou maneiras…

A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças de outras terras,
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento.

(Poema de Neves e Sousa, 1979, in “ NEVES e SOUSA pintor de Angola” )

segunda-feira, 1 de março de 2010

Paulo Flores - poema do semba

NOTAS POLÍTICAS (4)

No programa da SIC-Notícias do dia 26 de Fevereiro, sexta-feira à noite, dirigido por essa jornalista reputada que é Ana Lourenço, discutia-se o inevitável “Face oculta”. Eram comentadores políticos os conhecidos Luís Delgado e Bettencourt Resendes.

A meio da profunda análise política que desbobinava com aquele ar convicto que se lhe reconhece, Luís Delgado sai-se com esta:

“Confesso que sinto um fraquinho por este Primeiro-Ministro”.

Eu cá já andava desconfiado que o “Face oculta” ainda escondia algumas coisas…

NOTAS POLÍTICAS (3)

Manuela Ferreira Leite declarou num almoço da Câmara de Comércio Luso-Francesa que, se Portugal continuasse pelo caminho que a Grécia seguira, sem nada se fazer, dentro de uns dois anos estaria na situação daquele país.
Foi isto que se ouviu claramente nas reportagens televisivas e, ao ouvi-lo, encolhi os ombros e disse para os meus botões: cá está mais uma verdade de La Palisse dos nossos dirigentes políticos.
Puro engano! Pois não é que, de imediato, o Ministro da Presidência, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, o Ministro das Finanças, pelo menos, saltaram para ribalta política e começaram a desancar na senhora, acusando-a de ser anti-patriótica, de estar a agitar os mercados financeiros internacionais, de mentir porque Portugal não estava como a Grécia (o que, de todo, não fôra dito), enfim, exigindo-lhe que se retratasse?!
Pasmei. Se aquela tão inócua afirmação era susceptível de colocar em xeque os interesses nacionais face aos mercados internacionais, então o melhor para os interesses do País seria ignorá-la, não empolá-la. Como não foi isto o que se fez, a única explicação plausível era a de que se estava face à mais baixa politiquice do nosso quotidiano político.
Cada vez mais me convenço de que o principal problema do País não é o défice orçamental, a dívida externa, o desemprego: é a óbvia falta de qualidade dos nossos governantes, a pobreza do nosso sistema partidário que lhe serve de suporte .E disto pouco se fala com receio de se ser acusado de anti-democrata, quando é exactamente o contrário: é da boa qualidade da vida partidária que em muito, embora não em exclusivo, depende a saúde da nossa democracia.

NOTAS POLÍTICAS (2)

A tragédia que se abateu sobre a Madeira levantou-me um sem número de sentimentos e de reflexões. Gostaria de destacar apenas as seguintes:
1) Toda a Nação sentiu e chorou o drama terrível por que passou a Madeira e as suas gentes. Fomos uma nação unida, em que a autonomia regional não divide, antes agrega o que secularmente é um só País e um só Povo.
2) Os madeirenses revelaram desde o primeiro minuto da tragédia que sobre eles desabou uma espantosa capacidade de resistência. Não se ouviram choros, não se escutaram lamechices, não se viu ninguém parado, de braços caídos, a carpir. Responderam como uma mola ao apelo do Governo Regional e deram um exemplo de que o País, no seu todo, bem precisa: trabalho, afinco, dentes cerrados. Só assim, aliàs, se vencem as adversidades, o resto são balelas para épater le bourgeois.
3) É justo realçar também a prontidão com que o Governo da República, Primeiro-Ministro à cabeça, manifestou uma resposta de apoio à Madeira, sem a qual não será viável a indispensável reconstrução do muito que foi destruído. E foi repousante ouvir a resposta de Alberto João Jardim.Vamos ver por quanto tempo se aguenta esta “cooperação estratégica”…